25 de agosto de 1902
Manifesto da Restauração Monárquica de 1902

"Brasileiro, às armas!
A nossa honra de povo livre, os nossos brios de povo independente, a nossa própria conservação reclamam, de nós, nesta hora suprema de privações e ignomínias, toda a energia e todos os sacrifícios!
A terra gloriosa de nossos avós, a nossa amada Pátria, outrora invejada pelo estrangeiro como uma das mais felizes do mundo, está transformada em lodaçal, pau pestilento, onde só podem viver as oligarquias, cevadas no tesouro, tripudiando sobre a honra nacional.
Vede como a perversidade, de homens sem patriotismo, livres de obediência à moral, e afeitos à violência e ao crime, desfigurou a nossa grandeza, desbaratou a nossa riqueza, na orgia infernal que nos deprime e avilta!
Contemplai a miserável situação em que nos achamos!
Fora do país, de bárbaros é a nossa fama. O Governo Brasileiro foi proclamado, na Europa, o mais corrupto da Terra! Os nossos diplomatas, deslembrados de sua alta missão, são objeto de ridículo nos países civilizados, onde deslustram o nome brasileiro por sua inépcia e ignorância!
Os credores externos, os ricos banqueiros de Londres, ditam leis ao nosso Governo, que garante com hipotecas os seus capitais, enquanto defrauda o credor nacional, impondo-lhe arranjos indecorosos, roubando-lhes as economias, com tantos sacrifícios acumulados!
De nossa supremacia na América resta apenas a lembrança! O nosso exército que venceu em 24 de maio, que triunfou no Humaitá, que se cobriu de glórias, com tantas batalhas, na defesa da Pátria, já não pode impedir que a Bolívia nos tire o Acre, desintegrando o território nacional!
A Marinha, nossa gloriosa Marinha, que outrora pôde escrever com sangue, mas com glória inexcedível a epopéia do Riachuelo, apodrece ingloriamente na baía do Rio de Janeiro ou dela só se afasta, por ordem do governo, como medida de segurança, não da Pátria, mas do próprio governo, que a tem em suspeição.
Como nação valemos menos que o Egito, cujos títulos de dívidas logram, nas praças estrangeiras, cotações que os nossos já tiveram, mas que hoje não alcançam, tal o nosso descrédito.
No Interior as cores dos quadros desta atualidade não são menos negras.
Tudo corrompido, tudo em decomposição: uma vasta podridão de norte a sul do país:
Ruínas, ruínas por toda parte!
A lavoura, vencida por uma crise tremenda, como jamais se viu neste País, debalde tem esperado o socorro que o governo não podia negar, sem faltar a um imperioso dever.
O comércio, explorado pela ganância, batido pelo câmbio, cujas quedas e cujas oscilações tornaram impossível todo o cálculo, ou vegeta como planta marinha ou abre escandalosa falência, procurando na fraude vantagens que o trabalho honesto já não pode dar!
As empresas definham ao desamparo, morrem sugadas pelo fisco, cujo mil tentáculos arrecadam quantias fabulosas, que mal entram para o erário público, dele saem para as dissipações dos magnatas, para enriquecer os advogados administrativos, e, suprema vergonha, para o luxo das meretrizes corretoras, cujos retratos o despudor de um ministro estampou nas notas do tesouro.
Tudo ruínas; ruínas materiais, manifestadas na pobreza e na miséria que se alastram por toda a parte; ruínas morais dolorosamente reveladas na devassidão que campeia de um extremo a outro do país!
A União já suspendeu pagamentos; os Estados já não podem pagar o funcionalismo público, e fecham escolas porque o dinheiro do imposto escasseia, enquanto a ganância dos larápios aumenta desmedidamente numa fúria diabólica!
Justiça! Por justiça clama o povo brasileiro sem a encontrar nos tribunais, cujos juízes são feitos ao molde de interesseira e mesquinha política!
O magistrado, que em toda a parte é garantia dos direitos individuais, segurança de todas as liberdades, é aqui servo do governo, a cujo saldo está a vara da justiça, transformada em instrumento político, de que as oligarquias se servem para cortar os estímulos do patriotismo revoltado!
Desgraçada situação! Pobre Pátria, cujo destino está nas mãos de uma malta de aventureiros tão arrojados em suas empresas de explorações quão despojados de brio e de honra!
Brasileiros; isto não pode continuar. Às armas!
Salvemos a nossa Pátria; sejamos dignos de nossos antepassados!
É impossível maior dilação: soou o momento preciso, inadiável, em que cada cidadão deve cumprir o seu dever! E esse dever só será cumprido pela Constituição de um Governo Nacional, capaz, pela inteligência e pela honestidade, de garantir o nosso direito, respeitar a nossa liberdade e bem conduzir a Nação aos seus gloriosos destinos!
Exército de Caxias e de Osório, Marinha de Barroso e Tamandaré: confraternizai com o povo para salvação da Pátria!
Soldados brasileiros, cuja espada gloriosa sempre fulgiu brilhante na defesa nacional, não a deixeis na bainha agora que a Pátria faz um supremo apelo ao vosso valor e patriotismo!
Mocidade das Escolas, civis e militares, vós que ainda conservais a pureza do amor pátrio, que enche os vossos corações, vinde, altaneira e generosa, combater a tirania em nome da liberdade!
Brasileiros! Cumpri o vosso dever! Às armas!
VIVA O BRASIL!
VIVA A LIBERDADE!"
Publicado originalmente pelo Sr. Professor Edgar Carone a do jornal Correio da Manhã de 25 de agosto de 1902.
Fonte:
OSSIS GOBATTO, Osmar (2000) A Revolta Monarquista de 1902 No Estado de São Paulo, Editora Autor.